Guerreiro Babilônico

Postado em

               Vindo a dominar boa parte do Oriente Médio durante o apogeu de seu império, o exército da Babilônia acabou por suplantar uma das máquinas de guerra mais fatais da região, o exército assírio. Ainda assim, emulando o estilo de seus antigos governantes, os guerreiros babilônios acabaram por se tornar parte de uma das fases importantes da idade do ferro e, dessa forma, sendo eficazes ao ocupar o vácuo de poder deixado pela queda do Império Assírio.

               Por mais que a Babilônia existisse desde o terceiro milênio a.C., o apogeu de sua extensão territorial só surgiu a partir de 626 a.C., quando Nabopolassar, um antigo oficial assírio, aproveitou a oportunidade deixada pela morte do rei Assurbanipal da Assíria e contribuiu pesadamente para a destruição do Império Neo-Assírio, fundando em seu lugar o Império Neo-Babilônico, centrado na capital Babilônia. Antes disso, porém, a Babilônia já havia sido o centro de um outro império, que atingiu o seu ápice a partir de 1792 a.C., sob o governo de Hammurabi. Em ambos os casos, a cultura da cidade-estado que se tornara o centro de um grandioso império havia sido influenciada de uma maneira significativa pela cultura de seus vizinhos, ou soberanos.

               O Império Babilônico sempre esteve no centro das influências ácades e, dessa forma, acabou por desenvolver uma cultura militar similar ao do império de Sargão. O Império Neo-Babilônico, por sua vez, tendo sido inicialmente submisso aos assírios, assim que ganhou a sua soberania e suplantou o antigo império, passou a simplesmente adotar o modelo militar de seus antigos soberanos que, apesar de sua queda, ainda se mostrou extremamente eficaz em suas diversas provas de fogo nas mãos dos babilônicos.

Na área escura, a extensão máxima do Império Neo-Babilônico

               Por mais que, sob a tutela de Hammurabi, o exército babilônico fosse praticamente idêntico ao modelo acádio, ele, entretanto, mudaria drasticamente após um milênio até a sua nova encarnação como o Império Neo-Babilônico. Após séculos de dominação assíria da região, os babilônicos assimilaram boa parte de sua organização militar, com uma pequena diferença entre o profissionalismo e a dedicação ao ofício da guerra. Quase da mesma forma que Hammurabi no passado, Nabopolassar buscou em seus antigos dominadores a fórmula militar para as sucessivas vitórias da Babilônia durante a sua expansão.

               O equipamento da infantaria babilônica era idêntico ao dos assírios, usando capacetes de bronze e armaduras de bronze lameladas ou escamadas como proteção e, como armas, principalmente uma lança longa de ferro, por mais que espadas não fossem raras como armas secundárias. Os soldados babilônicos também usavam escudos de palha, mas menores e redondos se comparados com o exército de Hammurabi. Outra grande proficiência dos soldados babilônicos era com o arco, usado principalmente na defesa de cidades ou, até mesmo, durante algum cerco contra as mesmas.

               Mas, ao contrário do Império Babilônico, que confiava principalmente em escravos para o contingente de seu exército, e diferente do Império Neo-Assírio, que possuía um grande exército profissional e bem treinado, o Império Neo-Babilônico conseguia a maior parte de suas tropas através de levas de recrutamento ao redor de todo o seu império multi-étnico, enquanto os assírios, por sua vez, confiavam principalmente em assírios étnicos para compor o seu exército. Também como os assírios, as guerras promovidas pelo Império Neo-Babilônico envolviam vários cercos, muitos deles visando principalmente as riquezas das cidades sitiadas e, futuramente, capturadas.

Exército babilônico assaltando uma cidade

               Com a exceção de alguns reis que promoveram a expansão, tanto do Império Babilônico quanto do Neo-Babilônico, ambos os impérios eram geralmente pacíficos e possuíam boas relações com seus vizinhos, com o foco da maioria dos reis sendo, na verdade, a construção de melhorias na própria cidade da Babilônia. Entretanto, em combate, o exército babilônico era uma força a ser considerada, como foi provado em várias batalhas, como a Batalha de Carchemish e o Cerco de Jerusalém.

               A Batalha de Carchemish ocorreu em 605 a.C., entre o exército de Nabucodonosor II e o faraó Necho II, em conjunto com o que restara do exército assírio após o estabelecimento do Império Neo-Babilônico por Nabopolassar, pai de Nabucodonosor II. Após as campanhas de Nabopolassar, cujo resultado fora herdado por seu filho, o remanescente do Império Neo-Assírio estava isolado na cidade de Carchemish, onde esperava pelo auxílio do Egito, seu antigo vassalo, para que pudesse combater o recém formado império em uma tentativa de restaurar Ashur-uballit II para o seu trono.

               Enfraquecidos devido a um embate anterior contra o exército do Reino de Judá, o auxílio do exército assírio não conseguiu revitalizar as tropas egípcias, ambos tendo que enfrentar um grandioso exército, que estava longe de estar cansado. O embate entre as duas forças resultou numa vitória avassaladora para Nabucodonosor II, que perseguiu os egípcios e conseguiu uma nova vitória em Harmath. O triunfo de Nabucodonosor II em Carchemish sinalizou o fim da independência dos assírios e, após a Batalha de Harmath, que ocorreu logo após a Batalha de Carchemish, o exército egípcio ficou enfraquecido o suficiente para que o Egito nunca mais fosse uma potência significante no Oriente Médio, marcando também o fim das intervenções egípcias na política da região.

               O Cerco de Jerusalém ocorreu em 589 a.C., iniciado por Nabucodonosor II em represália a Zedequias, que havia sido instalado como rei tributário de Judá pelo mesmo após um cerco em 597 a.C. Zedequias, entretanto, havia se rebelado em uma aliança com o faraó Hophra, instigando uma represália do rei Nabucodonosor II, que novamente sitiou a cidade. O longo cerco durou entre 18 e 30 meses, encerrando somente quando Nabucodonosor II conseguiu quebrar os muros de Jerusalém e liderou o seu exército para dentro da cidade, coordenando a completa destruição da mesma.

               Este Cerco de Jerusalém foi um evento importante na história dos judeus, já que resultou na pilhagem e eventual destruição do Templo de Salomão, além de fazer com que 4200 cidadãos de Judá, a maioria membros da elite do reino, fossem levados para a Babilônia, iniciando o período chamado de cativeiro babilônico. O derrotado rei de Judá, Zedequias, tentou escapar, mas foi capturado em Jericó e levado para Riblah, onde testemunhou a morte de seus filhos antes de ser cegado e carregado para a Babilônia, onde permaneceu como um prisioneiro pelo resto de sua vida.

Ilustração da Batalha de Carchemish

               A derrocada do primeiro Império Babilônico veio pelas mãos dos assírios. Por mais que houvesse várias mudanças dinásticas no trono da Babilônia, apenas uma ameaça externa tão poderosa quanto os assírios conseguiram subjugar o território babilônico em 911 a.C. Em 626 a.C., entretanto, o Império Neo-Assírio chegou ao seu fim, sendo suplantado por um império restaurado, centrado na Babilônia como o antigo. O Império Neo-Babilônico sofreu com diversas disputas internas pelo poder após a morte de Nabucodonosor II, sendo seu filho, Neriglissar, o primeiro das vítimas de uma série de assassinatos políticos que permearam o restante da história do império.

               Nabonidus, o último rei da Babilônia, era extremamente impopular com os sacerdotes de Marduk, já que ele se esforçou para suprimir o culto a esse deus. Não tardou muito para que a aristocracia também se enfurecesse com Nabonidus, já que o mesmo confiava várias vezes ao seu filho, Belshazzar, o peso da administração do reino, algo o qual o príncipe não conseguia realizar com eficiência. A falta de popularidade de Nabonidus acabou refletindo na atitude da população quando a mesma recebeu, de braços abertos, o conquistador Ciro, o Grande, assim que o persa entrou na cidade sem qualquer tipo de resistência inimiga, anexando o antigo Império Neo-Babilônico ao ascendente Império Persa, em 539 a.C.

cyrusbab

Ciro, o Grande, entrando na cidade da Babilônia após a sua rendição

               Mesmo sem um foco exacerbado no militarismo, a Babilônia conseguiu manter a sua presença como uma potência regional duas vezes, e em ambas sendo capaz de montar um grandioso império, cuja capital se tornara o centro das atenções de seus soberanos. Adaptando-se aos diversos estilos de guerra que passaram pela sua região durante toda a sua história, os guerreiros da Babilônia acabaram por causar uma grande impressão na história dos povos os quais eles derrotaram e, mesmo sem grande expressividade, também ajudaram a manter o legado da Babilônia após a sua eventual conquista.

Fontes:
SEEVERS, B. Warfare in the old testament: the organization, weapons, and tactics of ancient near eastern armies. Estados Unidos: Kregel Academic, 2013. 320 p.
OATS, J. Babylon. Reino Unido: Thames & Hudson, 1986. 216 p.
WISE, T. Ancient armies of the Middle East. Reino Unido: Osprey Publishing, 1981. 48 p.
ROUX, G. Ancient Iraq. Reino Unido: Penguin Books, 1993. 576 p.

Deixe um comentário