Texas Rangers

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               Servindo como uma das principais forças protetoras de assentadores em sua região, os texas rangers possuíram várias funções ao longo de sua história, se destacando como uma unidade versátil, capaz não só de proteger civis de ameaças externas, mas também de lançar ataques rápidos contra seus inimigos. Mantendo a segurança da República do Texas e de seus cidadãos, os texas rangers acabaram por se transformar em um dos símbolos militares dos Estados Unidos da América, passando por várias transformações em seu ofício e área de atuação.

               Os texas rangers foram criados em 1823, por Stephen Fuller Austin. Na época, o Texas era território do recém-independente Império Mexicano, sendo parte da chamada província de Coahuila y Tejas. No entanto, a área era despovoada, repleta de índios que geralmente eram hostis aos colonos, entre eles principalmente os comanches, que frequentemente atacavam fazendas e postos de vigilância na região, o que desencorajava os mexicanos de povoarem a província. A solução encontrada pelos mexicanos foi a de convidar assentadores americanos para a região, e logo os americanos do Sul passaram a povoar o Texas, atuando em conjunto com os mexicanos para se defenderem contra os ataques indígenas.

               Stephen F. Austin criou os texas rangers como uma milícia composta por irregulares, cujo propósito era patrulhar as regiões mais remotas do Texas e proteger os assentadores locais contra as diversas ameaças apresentadas pela região. Por mais que a sua data de criação fosse em 1823, os texas rangers só seriam de fato formalizados em 1835, o mesmo ano de início da Revolução Texana, que terminou com a independência da República do Texas, a qual os rangers passaram a servir.

Fronteiras da República do Texas após sua independência

               Por serem inicialmente bandos informais, os rangers tinham de adquirir seu próprio equipamento, o que deixava pouco espaço para a diversidade de armas. As armas mais usadas pelos rangers eram uma espingarda de dois canos paralelos, além de mosquetes ou pistolas de fecho de pederneira. Como eles eram parte de uma milícia, os texas rangers só passaram a usar um uniforme próprio durante e depois da Revolução Texana. Nos anos anteriores a esse evento, o comum era que os rangers usassem as próprias roupas casuais em suas operações. Os uniformes dos texas rangers, que começaram a ser implementados em 1835, eram visivelmente simplórios, composto somente por um leve casaco de pano e um distintivo de identificação, feitos a partir do peso mexicano.

               Durante a Revolução Texana, o equipamento dos rangers também mudou ligeiramente, principalmente com o emprego do revolver Colt Paterson em 1836, que havia sido rejeitado pelo exército dos Estados Unidos. O revolver Colt Paterson era uma arma de última geração na época, capaz de disparar 5 tiros. No entanto, havia algumas complicações na hora de recarregá-lo, fazendo com que o usuário tivesse de desmontar parcialmente a arma para que ele pudesse recarregá-la. No entanto, esse design acabou por ser corrigido em 1839, quando o revolver finalmente começou a ser produzido com uma alavanca de recarga, e dessa forma foi utilizado mais amplamente pelas tropas texanas.

               Os texas rangers geralmente se locomoviam e lutavam a cavalo, seja como cavalaria ou infantaria montada. O principal objetivo dos rangers, chamados assim porque eles “percorriam” grandes distâncias, era o de justamente montar contra-ataques ou incursões rápidas principalmente contra os ínidos das planícies, que também geralmente lutavam à cavalo. Inicialmente, o objetivo dos texas rangers era o de defender as fronteiras dos assentamentos civis contra os ataques indígenas, mas a partir de 1835, os mexicanos haviam se tornado seus principais inimigos. Desde então, os rangers mudaram de tática, adotando uma postura de bater e correr, principalmente em embates contra a cavalaria mexicana. Não só isso, mas os rangers também continuaram protegendo civis durante evacuações de cidades, além de servirem como batedores, vasculhando o terreno a procura de tropas mexicanas.

               A partir de 1842, sob a tutela do capitão John Coffee Hays, os rangers se tornaram mais disciplinados e coesos, se tornando uma força a ser considerada pelos seus inimigos. Curiosamente, em contraste com o papel da cavalaria da época, Hays treinou os rangers para atirarem e carregarem suas armas ainda estando montados no cavalo, o que acabou se tornando uma inovação radical para a época, já que a cavalaria deveria desmontar para recarregar suas armas, principalmente as mais pesadas, e garantiu uma vantagem de mobilidade para os já versáteis texas rangers. Essa vantagem, que se provou decisiva em várias ocasiões, acabou sendo copiada não só pelo exército da República do Texas, mas também pelo próprio exército dos Estados Unidos.

Texas rangers patrulhando uma área em seus primórdios

               Mesmo não tendo participado ativamente da maioria das batalhas durante a Revolução Texana, os texas rangers tiveram um papel coadjuvante em uma importante batalha do conflito, sendo essa a Batalha de San Jacinto, além de terem lutado contra os comanches na Batalha de Plum Creek. A Batalha de San Jacinto ocorreu em 21 de abril de 1836, entre os exércitos da recém-proclamada República do Texas contra as forças do Império Mexicano, lideradas respectivamente por Sam Houston e Antonio de Santa Anna.

               A Batalha de San Jacinto foi a última batalha da Revolução Texana, uma rebelião dos assentadores americanos do Texas, ocasionada não só pelo choque cultural provocado pela cada vez maior população americana na província de Coahuila y Tejas, mas também pela crescente centralização do governo mexicano, agora uma república, o que acabou se tornando nocivo aos próprios assentadores americanos da região. Após a vitória de Santa Anna na Batalha do Álamo, vários civis texanos evacuaram suas cidades, entrando no interior dos EUA ou em regiões isoladas do próprio México. Santa Anna permaneceu perseguindo os texanos por um bom tempo, mas com uma pequena força.

               Quando os soldados texanos, após capturar um mensageiro mexicano, descobriram que Santa Anna estava próximo e com uma força não muito maior que a deles, Sam Houston elevou a moral de suas tropas e clamou por um ataque decisivo contra o general mexicano, que foi rapidamente atendido. As tropas texanas chegaram no local de batalha antes dos mexicanos, acampando em uma posição segura em um terreno que não era familiar ao exército de Santa Anna. O general mexicano, por sua vez, acampou na margem do rio San Jacinto, um local que o deixava extremamente vulnerável a ataques inimigos. Após duas breves escaramuças, uma a qual permitiu um reconhecimento maior das tropas texanas pelos mexicanos, o que foi provocado devido à indisciplina da infantaria texana, os mexicanos fortificaram seu acampamento e prepararam-se para descansar.

               No dia seguinte, 21 de abril, os reforços de Santa Anna chegaram, e Sam Houston ordenou a destruição de uma ponte para evitar que mais inimigos chegassem. As tropas texanas se aproximaram calmamente do acampamento mexicano, e após uma saraivada de artilharia, a infantaria avançou diretamente contra as tropas mexicanas no local, o que acabou os pegando de surpresa. Não tardou para que nem os oficiais mexicanos conseguissem controlar os seus soldados que estavam fugindo, e nem para que os oficiais texanos conseguissem controlar os seus soldados que estavam tomados de uma incrível fúria vingativa, atirando em todo e qualquer mexicano que entrassem em suas miras enquanto gritavam “Lembrem-se do Álamo!”, a batalha anterior que havia resultado em um massacre de texanos por parte dos mexicanos, e “Lembrem-se de Goliad!”, uma execução em massa de prisioneiros de guerra texanos ordenado pelo general Santa Anna.

               A batalha acabou resultando numa fuga generalizada das tropas mexicanas, enquanto vários outros foram capturados e até mesmo executados impiedosamente. Os texanos conseguiram capturar o general Santa Anna, que quase foi executado, mas conseguiu barganhar pela sua vida em troca da promessa de que ele manteria as suas tropas longe. Novos acordos foram feitos entre Houston e Santa Anna, que culminaram na evacuação do exército mexicano do Texas, e o que resultou na independência de facto da República do Texas, por mais que o México continuasse a clamar o Texas como seu território. Dos 1360 soldados mexicanos presentes na batalha, 650 foram mortos, outros 208 feridos e mais 300 capturados. Dos 910 texanos em batalha 11 morreram e 30 foram feridos.

               A Batalha de Plum Creek ocorreu em 12 de agosto de 1840, durante as guerras indígenas americanas, uma disputa territorial entre os colonos e os índios norte-americanos que durou do século XVI até o século XX. A batalha ocorreu quando o chefe comanche Corcova de Búfalo organizou um grupo de guerra para atuar contra a República do Texas, em represália ao Massacre da Casa de Conselho, em que oficiais da república assassinaram todos os membros de uma delegação de paz comanche, que visava negociar suas fronteiras territoriais. Tratando o ato dos texanos como uma traição, os comanches organizaram a Grande Incursão de 1840, sendo esse o maior ataque indígena da história dos EUA, a qual diversas cidades texanas se tornaram um alvo, o que resultou na Batalha de Plum Creek.

               A batalha foi um encontro entre os texas rangers, milícias texanas e índios tonkawa, contra os comanches. A batalha foi um encontro altamente móvel, com todos os dois lados andando a cavalo e disparando tiros uns contra os outros. Enquanto os comanches tentavam fugir com seu saque, que incluía além de objetos de valor, mulas e roupas, os texas rangers abordaram eles a 43km de Austin. Os texanos clamam para si a vitória nesse embate, com 41 de seus 200 homens sendo mortos, enquanto as baixas comanches são incertas, mas segundo registros texanos beiram os 80, de aproximadamente 1000 pessoas entre mulheres e crianças. Um dos fatores determinantes para a possível derrota dos comanches foi o fato de que eles não se desapegaram de seu próprio saque, e enquanto tentavam controlar a enorme quantidade de mulas e cavalos que haviam roubado, muitos foram mortos, por mais que apenas 12 corpos fossem recuperados.

Tropas texanas atacando os mexicanos na Batalha de San Jacinto

               A República do Texas manteve-se como um Estado independente de 1836 até 1845, quando foi anexada pelos Estados Unidos, tornando-se o Estado do Texas. No entanto, o México se recusou a aceitar essa anexação por ainda reconhecer o Texas como sendo seu território, o que imediatamente começou a Guerra Mexicano-Americana. Os rangers participaram ativamente desse conflito e marcaram o folclore americano graças à sua participação. No fim, a guerra encerrou com uma vitória americana, forçando o México não só a reconhecer o Texas como sendo dos EUA, mas também entregando a eles os territórios que atualmente são os Estados do Novo México, Arizona, Colorado, Utah, California e Nevada.

               Os rangers continuaram como uma força proeminente no Texas, mesmo tendo sido desmantelados após a Guerra Civil Americana, retornando em 1874. Desde então, os texas rangers permanecem como a força policial do Texas, atuando no restante do século XIX e no início do século XX como patrulheiros da fronteira, convertendo-se na polícia estadual do Texas a partir da década de 1930.

Rangers da Companhia F em foto com o governador George W. Bush, 1997

               Tendo diversos propósitos em sua longa existência, seja como milícia ou força policial, os texas rangers se destacaram em diversos conflitos, no que auxiliou em sua consolidação como uma parte essencial da cultura americana. Atuando contra índios e mexicanos durante as primeiras décadas de sua existência, a conversão dos rangers para a polícia texana não afetou sua fama, e ainda assim eles permanecem como uma das forças mais bem reconhecidas dos EUA.

Fontes:

HARDIN, S. The Texas Rangers. Reino Unido: Osprey Publishing, 1991. 64 p.
KOURY, M. J. Arms for Texas. Estados Unidos: Old Army Press, 1973. 94 p.
WEBB. W. P. The Texas Rangers: a century of frontier defense. Estados Unidos: University of Texas Press, 1965. 608 p.
ROBINSON, C. The men who wear the star: the story of the Texas Rangers. Estados Unidos: Modern Library Paperbacks, 2001. 400 p.
WILKINS, W. The legend begins: the Texas Rangers, 1823–1845. Estados Unidos: State House Press, 1996. 256 p.

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