Soldado Inca

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               Possuindo um dos sistemas de organização militar mais modernos da América do Sul na época, os incas venceram grandes batalhas em seus territórios contra impérios rivais graças a sua organização, suas táticas e principalmente seus soldados. Sendo os soldados mais aptos do império inca, os awaqaq runa faziam uso do terreno e de seu avançado equipamento para conquistar todos aqueles que se opunham à dominação inca na América do Sul.

               Nos primórdios do império inca, os soldados eram recrutados a partir de camponeses e somente usados em caso de guerra. Porém, com a expansão territorial e a necessidade de um exército mais sólido, os incas começaram a fazer uso de soldados profissionais. Esses soldados eram recrutados através da escolha de um entre 50 homens com 25 anos (idade legal no império inca), e o escolhido seguia a carreira militar, enquanto os outros teriam de cumprir serviços comunitários.

               A escolha de oficiais para o exército era feito a partir de um festival chamado Warachikuy, em que várias provas eram impostas aos concorrentes como corridas, simulações de combate, precisão de tiro, treinamento de batalha e até mesmo uma competição para ver quem ficava acordado por mais tempo. De qualquer forma, após os soldados cumprirem suas obrigações, como em um sistema de alistamento obrigatório, eles eram dispensados para seus territórios.

Extensão territorial do Império Inca em seu apogeu

               Os awqaq runa, soldados rasos, e todo o resto do exército inca usavam equipamentos parecidos, mas uma parte era distribuída de acordo com a sua etnia, como por exemplo os chancas, que preferiam usar maças e os antisuyu, que preferiam usar arco e flecha. Como o Império Inca era multicultural, ele evitava tirar os guerreiros de outras tribos e etnias de sua zona de conforto ao moldar ao seu padrão, e dessa forma deixava que eles florescessem as habilidades próprias de guerra.

               O armamento padrão para os nativos quechuas, entretanto, era uma macana, uma espécie de maça com um objeto pesado em sua ponta, geralmente bronze ou pedra, as famigeradas atiradeiras, machados feitos de pedra ou cobre, espadas, lanças, que eram usadas também como símbolos de status entre os oficiais de alta patente e até mesmo uma estolica, arma parecida com o atlatl asteca que era usado para lançar lanças nos inimigos.

               Como forma de proteção, os incas usavam capacetes de madeira encrustados com cobre e armaduras de algodão acolchoado. O uso de escudos estava restrito a soldados de patente mais alta e oficiais e eram feitos de couro e madeira, tomando formatos quadrados, circulares ou retangulares.

               O exército inca era auxiliado por uma extensa rede de estradas para facilitar a sua mobilização e logística, algo similar ao que tinha ocorrido no Império Romano. A disciplina também era um aspecto fundamental do exército inca, e nenhuma das tropas era permitida a deixar seu batalhão, e todas tinham que manter silêncio até o contato visual com o inimigo. A disciplina do exército inca era fundamental, já que contribuía até mesmo para sua sobrevivência em emboscadas que eles sofriam em diversos tipos de territórios.

               O ataque inca era dividido em três fases: na primeira, os arqueiros e atiradores atacavam à distância para romper as linhas inimigas antes de ir para a retaguarda do exército, que corria em direção ao inimigo para o combate corporal. A terceira fase geralmente envolvia uma falsa retirada do exército inca, enquanto a retaguarda se movimentava para circundar e atacar os flancos inimigos, em movimento de pinça.

Ilustração de uma batalha entre Incas e Mapuches, do Chile

               Os incas se envolveram em muitas batalhas, principalmente para expandir o seu império, porém, uma ameaça maior chegou de além mar: Os espanhóis, com quem os incas travaram as suas mais decisivas batalhas. Contra os espanhóis, os incas lutaram na batalha de Ollantaytambo e a resistência em Vilcabamba.

               A batalha de Ollantaytambo aconteceu em Janeiro de 1537, na cidade de Ollantaytambo, um dos quartéis generais dos incas que foi atacado pelos espanhóis e seus aliados nativos, liderados por Hernando Pizzarro, contra os incas que estavam sendo liderados pelo imperador Manco Inca Yupanqui. Os espanhóis, equilibrados em homens com o do exército inca, ambos com aproximadamente 30 mil homens, foram derrotados pelos incas, as baixas de ambos os exércitos sendo desconhecidas.

               Os espanhóis sofreram uma derrota em Ollantaytambo devido às fortificações locais. Manco Inca Yupanqui escolheu o local por causa da altitude e de sua posição estratégica, entre um rio e um vale, dificultando a movimentação dos espanhóis, que se viram cruzando o rio várias vezes para chegar em seu objetivo, se tornando presas fáceis para os incas, seguros em suas montanhas. Os espanhóis de Pizzarro não conseguiram penetrar nas muralhas e outras fortificações incas, perdendo homens para uma ferrenha resistência e, eventualmente, batendo em retirada.

               Apesar disso, a chegada de reforços espanhóis para a batalha forçaram os incas a se retirarem de Ollantaytambo, fazendo-os se refugiarem em Vilcabamba pelo restante da duração do império, e também do resto de sua existência.

               A batalha final entre os incas e espanhóis seria em Vilcabamba, o último Estado inca a existir entre os espanhóis. A batalha ocorreu após um capitão inca ter matado dois embaixadores espanhóis, que chegaram para negociar a paz com os incas. Os espanhóis então sitiaram a cidade de Vilcabamba, o último refúgio dos incas, em 14 de Abril de 1572, futuramente conquistando a cidade através de fogo de artilharia.

               Os incas tentaram levantar o cerco, sem sucesso, mesmo com uma bravura ímpar, e acabaram se rendendo ao poder de fogo dos espanhóis. Aqueles que não se renderam, fugiram para as florestas e depois foram capturados pelos espanhóis, um dos fugitivos era o Sapa Inca, o imperador Túpac Amaru, que foi executado em Cuzco após sua captura.

Combate entre incas e espanhóis, Felipe Guaman Poma de Ayala

               Os incas eram a maior potência dos andes até a dominação espanhola, sendo exatamente essa a razão da sua queda. Após a fatídica batalha em Vilcabamba e a execução de Túpac Amaru, o império inca cessou de existir, dando lugar ao governo espanhol que se expandiu ainda mais com a ajuda da influência nativa.

               Mesmo com o domínio, ocasionalmente brutal, dos espanhóis, a arquitetura inca e a sua cultura conseguiu sobreviver até hoje nos andes, principalmente no Peru, onde uma das línguas mais faladas pelo povo é a língua do Império Inca. Mesmo com a derrota, os incas ainda são motivo de orgulho para os nativos dos países andinos mesmo após séculos de dominação espanhola.

Vista aérea de Machu Picchu

               Sendo a nação mais organizadas que já habitaram a América do Sul, os incas e seu sistema militar podem não ter sido páreo para os espanhóis e seus armamentos feitos de aço e armas de fogo, mas antes deles os incas eram a potência dominante nos andes e se expandiram para englobar a maioria de seu território. Os incas demonstraram a sua força, mas não em vão. Seu nome e sua cultura ainda permanecem vivas nos povos andinos, e não sem mérito, já que a sua bravura foi grande o suficiente para não desistirem sem antes lutar ferozmente pela sua nação e seu povo.

FONTES:
ESPINOZA, W. Los incas: economia, sociedad y Estado en la era del Tahuantinsuyo. Peru: Mantaro, 1997. 512 p.
D’ALTROY, T. N. The incas. Estados Unidos: Wiley-Blackwell, 2003. 408 p.
PIZZARRO, P. Relation of the discovery and conquest of the kingdoms of Peru. Estados Unidos: BiblioLife, 2009. 286 p.

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