Infante Sumério

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               Os legítimos primeiros guerreiros do mundo, os sumérios praticamente inventaram a guerra na idade antiga, já que eles foram a primeira civilização que o mundo conheceu. Mas seu mérito de pioneiros não veio em paz e sim acompanhado de muito sangue e muita bravura, nos que vieram a ser os primeiros conflitos da história humana.

               Tidos como a primeira civilização do mundo, os registros históricos da presença dos sumérios datam de 3500 a.C., porém historiadores acreditam que aquela região foi assentada entre 5500 e 4000 a.C. A Suméria, entretanto, era uma colcha de retalhos possuindo várias cidades-estado que competiam entre si por supremacia territorial.

               Não há muitos registros sobre batalhas específicas envolvendo a Suméria, mas há registros que sugerem que os sumérios já possuíam um exército profissional em 2600 a.C., sendo assim a primeira civilização a possuir um exército profissional, usando táticas avançadas que requerem a disciplina de um mesmo.

Face de guerra do Estandarte de Ur

               O equipamento da infantaria suméria não variava muito, os soldados da linha de frente usavam capacetes de cobre e túnicas de couro com anéis de ferro, além de uma tanga de pele de animal, evidenciando a simplicidade do material de proteção dos sumérios. Mas deve levar-se em conta que aqueles eram, possivelmente, os primeiros soldados profissionais da história, portanto sua proteção não deve ser subestimada.

               Como armas, os infantes sumérios podiam usar várias opções disponíveis, por mais que a lança com ponta de bronze fosse mais utilizada devido à facilidade de uso durante as formações, outras armas usadas pelos sumérios eram o machado de cobre, uma adaga e a inovadora khopesh. A khopesh era uma espada-foice que, além de cortar o inimigo, também possuía a utilidade de desarmá-lo através de sua ponta, que era curvada. A khopesh foi muito popular no Egito Antigo, mas o primeiro relato do uso dessa espada é sumério, através do rei Eannatum de Lagash. Acredita-se que a khopesh, para os sumérios, era um símbolo da realeza.

               Também existem lanças mais curtas, com pontas em ouro e prata, entretanto o seu propósito era unicamente cerimonial, provavelmente usada em cerimônias de procissão dos reis das cidades-estado da região. Tanto o ouro quanto a prata não são resistentes o suficiente para serem usados em combate.

               Os soldados sumérios se organizavam em formação de falange, que permaneceria a formação mais usada da idade antiga até a ascensão do Império Romano, por volta de 27 a.C. O uso da formação de falange, que requer uma pesada disciplina por parte dos soldados que fazem parte dela, dá a margem para que se crie a suposição de que os soldados das cidades-estado sumérias eram profissionais treinados, dando a eles o crédito de serem os primeiros soldados da história.

               Os sumérios também faziam uso efetivo de uma tática muito similar à formação da parede de escudos romana desde 2500 a.C. Fileiras de sumérios protegidos por seus escudos, arremessando dardos antes de saírem de encontro ao inimigo era uma cena comum no cenário de guerra mesopotâmico o qual as cidades-estado suméria se mergulharam.

Soldados sumérios em um terreno alto

               As guerras entre essas cidades-estado eram, principalmente, por território para novas plantações que abasteceriam o crescimento vegetativo do local, além de disputas pelo suprimento de água. Não haveria, entretanto, uma mentalidade de anexação de territórios só surgiria com Lugal-Anne-Mundu, rei de Adab, no século XXV a.C., que passou várias cidades da região para o seu mandato. A façanha seria repetida por Lugal-Zage-Si e, finalmente, Sargão da Acádia, que conseguiu unificar todas as cidades-estado sumérias.

               Não existem muitos registros de batalhas travadas entre as cidades-estado sumérias. Apesar disso, o mais famoso registro de combate sumério é o Stele dos Abutres, que retrata uma batalha entre a cidade-estado de Lagash contra a cidade-estado de Umma, envolvendo uma disputa por causa de um trato sobre terra cultivável na interseção territorial entre as duas cidades-estado, e é o primeiro registro de uma batalha na história da humanidade.

               Apesar de não estar completo, possuindo apenas 7 fragmentos, o stele providencia informações que ajudaram muito os historiadores a entender a guerra suméria. É nele que está registrado o uso da formação de falange e, também, do primeiro uso de uma khopesh na história. O stele possui esse nome porque, em seu topo, estão gravadas as figuras de abutres que carregam as cabeças dos inimigos mortos de Lagash.

               O resultado da batalha entre as duas cidades-estado foi a vitória de Eannatum, rei da cidade-estado de Lagash, representado vitorioso sobre a pilha de cadáveres dos seus inimigos. Como condição de derrota, o líder de Umma, promete não voltar mais para os territórios de Lagash sob a pena de punição divina.

               Muitos dos costumes guerreiros dos sumérios também estão presentes no estandarte de Ur, na sua faceta de “guerra”. Do outro lado do estandarte, estão alguns dos costumes pacíficos sumérios. A versão de guerra é um dos mais antigos registros de combates fronteiriços, e representa a ação de um exército sumério, liderado por seu rei, pondo seus inimigos em retirada durante uma escaramuça.

Sumérios avançando com o seu rei no Stele dos Abutres

               As cidades-estado sumérias acabaram sendo anexadas pelo crescente Império Acádio, de Sargão da Acádia em 2334 a.C. O Império Acádio influenciou pesadamente a cultura suméria, que floresceu após o período da dinastia gutiana, que derrubou o governo da dinastia de Sargão em 2154 a.C. Novamente, a maioria das cidades-estado sumérias foram anexadas em um crescente projeto de império, dessa vez centrado na cidade de Ur, a partir de 2112 a.C.

                Eventualmente, o solo das terras de Sumer começou a se salinizar, o que acabou causando grande migração da região e fome entre os cidadãos. Os sumérios tentaram mudar os grãos plantados, mas sem muito sucesso.

               Logo, as cidades-estado sumérias estariam fracas e vulneráveis à invasões de outros povos hostis, como os elamitas, que saquearam Ur cerca de 1940 a.C., o que precedeu o governo dos amoritas na Suméria, e eventualmente eles acabaram caindo para o ascendente Império Babilônico, sob o comando de Hamurábi cerca de 1700 a.C.

Ataque noturno entre cidades-estado sumérias

               Os sumérios formaram o berço da civilização, sendo os primeiros a manter um exército organizado e profissional, além de terem sido os primeiros a se organizarem civilizadamente. Muitos povos da idade antiga devem muito aos sumérios, que abençoaram distintas civilizações com o poder da guerra. A sua queda não se demonstrou o fim de seu legado, já que seu legado já estava espalhado enquanto eles ainda estavam de pé, provando que não precisa se estar vivo para se manter imortal.

FONTES:
KRAMER, S. N. The sumerians: their history, culture, and character. Estados Unidos: Chicago University Press, 1971. 372 p.
GABRIEL, R. A.; METZ, K. S. A short history of war. Estados Unidos: Strategic Studies Institute, 1992. 120 p.
SCHWARTZ, M. Warfare at the dawn of history: warriors of Babylon and Sumer. Países Baixos: Ancient Warfare. Vol. II N. 5, ps. 12 – 17, 2008
BERRIGAN, J. Early sumerian warfare. Disponível em < http://joseph_berrigan.tripod.com/ancientbabylon/id46.html > Acessado em 3 de Abril de 2014.

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