Caçador Português

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               Os caçadores eram a principal força e a elite da infantaria ligeira do exército português durante as guerras napoleônicas e além. Sendo denominados os “galos de briga” de seu exército, pelo duque de Wellington, os caçadores portugueses foram formidáveis aliados e ferozes oponentes que lutavam contra o jugo napoleônico que se espalhava pela Europa durante a guerra peninsular, e formaram um exemplo da força de vontade portuguesa durante a guerra.

               A origem dos caçadores é tida antes das guerras napoleônicas, com a criação de unidades de infantaria ligeira durante o século XVIII, como o Regimento de Voluntários Reais e a Legião de Tropas Ligeiras. Depois da Guerra dos Pirineus, parte da Guerra da Primeira Coalizão em 1797, cada companhia de infantaria portuguesa possuía um regimento de caçadores. O termo “caçadores” é uma alusão direta ao termo militar alemão “jäger”, que designa as tropas de infantaria ligeira. O exército português, entretanto, viria a lutar contra um oponente mais forte: a França. Com Portugal sendo invadido, a família real fugiu para o Brasil, mas o exército português continuou a lutar.

               Por mais que a sua origem fosse mais antiga, os caçadores portugueses ganharam um maior destaque durante a Guerra Peninsular, servindo sob o comando de Arthur Wellesley, Duque de Wellington. Tendo sofrido uma reforma em 1808 devido à péssima atuação do exército português contra os franceses, os caçadores também se tornaram parte da elite de infantaria leve durante a campanha, atuando em conjunto com o 95º Regimento de Rifles britânico. Ambos os regimentos eram conhecidos devido à sua grande precisão em tiros de longa distância, e também pelo fato de seus uniformes usarem um tipo de camuflagem.

A fuga da família real portuguesa para o Brasil, pouco antes da invasão francesa a Portugal

               Devido a sua atuação como infantaria leve, o equipamento dos caçadores não era muito pesado. Dessa forma,o eles simplesmente carregavam o essencial em armamento. Para combates em curta distância, um sabre de cavalaria e, para engajamentos à longa distância, um rifle Baker, que era o rifle padrão do exército inglês durante as guerras napoleônicas, e uma pistola de pederneira. Entretanto, o rifle Baker não era a regra, equipando apenas um terço dos batalhões de caçadores portugueses, com o resto utilizando o “Brown Bess”, padrão indiano.

               O uniforme dos caçadores portugueses era diferente dos ingleses, e até mesmo de outros regimentos portugueses, apesar de praticamente pertencerem ao mesmo exército. Os portugueses usavam um uniforme de cor marrom, com propósito de se camuflar do inimigo. Por mais que a cor verde fosse a mais popular para o propósito da camuflagem, cor que era usada pelos seus companheiros de elite britânicos, o marrom foi escolhido por se adaptar melhor à paisagem da Península Ibérica, onde o verde traria muito destaque e arruinaria o sentido da camuflagem.

               Os caçadores utilizavam das mesmas táticas de infantaria leve do período, ou seja, na vanguarda das linhas de batalha, com o propósito de assediar as linhas inimigas e, caso possível, também impedir o seu avanço. Devido à precisão em longa distância dos caçadores portugueses, em combinação com a sua camuflagem, eles se tornavam um alvo difícil para os franceses, contribuindo bastante para o esforço de guerra do Exército Anglo-Português e, também, para a sua eficácia geral na Guerra Peninsular.

Caçadores portugueses portando seus rifles

               Após a fuga da família real portuguesa para o Brasil, os portugueses lutaram com o apoio dos ingleses, e se formou o exército anglo-português sob o comando do duque de Wellington durante as guerras napoleônicas. As batalhas mais importantes foram a segunda batalha do Porto e a batalha de Vitoria. A Segunda Batalha do Porto, também conhecida como Batalha do Douro, ocorreu em 12 de Maio de 1809, quando o exército anglo-português, que recentemente tinha entrado sob o comando de Arthur Wellesley, enfrentou o exército francês sob o marechal Nicolas Soult.

               A cidade de Porto estava ocupada pelo exército francês desde 28 de Março, com a derrota portuguesa na Primeira Batalha do Porto. Entretanto, o general Wellesley fez sua estreia na Guerra Peninsular com uma vitória na Batalha de Grijó, que abriu a possibilidade para a recaptura de Porto. Seu avanço foi impossibilitado, entretanto, porque o marechal Soult, durante a sua retirada, destruiu ou remanejou os barcos que o Exército Anglo-Português usaria para cruzar o Rio Douro. A situação foi revertida quando civis portugueses colaboraram com os britânicos, deixando que os soldados usassem os barcos de um seminário nas redondezas.

               Os franceses demoraram para perceber a movimentação e, quando o fizeram, lançaram diversos ataques no seminário que os anglo-portugueses haviam fortificado, todos sem sucesso.  Assim que o marechal Soult foi enviar reforços para o local, os cidadãos de Porto se reuniram para auxiliar os britânicos a atravessar o rio, o que possibilitou o restante do exército anglo-português a se aproximar pela retaguarda francesa, cercando-os. Apesar disso, um erro de cálculo por um dos generais britânicos na hora de impedir a retirada francesa fez com que o marechal Soult e boa parte de seu exército conseguissem sair do local.

               Mesmo assim, o exército anglo-português conseguiu uma vitória decisiva em cima dos franceses, devido à essa vitória, Portugal foi libertado dos franceses, que foram forçados a bater em retirada para a Espanha. Dos 18400 soldados anglo-portugueses presentes na batalha, 23 foram mortos e 98 ficaram feridos. Em contrapartida, dos 11200 soldados franceses que tomaram parte na batalha, 600 estão entre os mortos e feridos, enquanto outros 1500 foram capturados.

               A batalha de Vitoria ocorreu em 21 de Junho de 1813, já durante a invasão da Espanha Napoleônica. Wellesley havia ocupado Madrid no ano anterior, mas para evitar ser cercado pelas tropas francesas, ele se retirou para a fronteira com Portugal para reorganizar suas tropas. Em contraste, muitas das tropas francesas posicionadas na Península Ibérica retornaram para a França como consequência da desastrosa derrota de Napoleão na Rússia. Dessa forma, o cenário para o combate estava montado quando Wellesley coordenou uma nova ofensiva, visando separar o exército de Jean-Baptiste Jourdan de seu acesso para a França em um ataque na cidade de Vitoria, no norte da Espanha.

               Os aliados atacaram os franceses a partir do vale de Zadorra, que estava com poucos reforços. Entretanto, um novo avanço aliado ameaçou cercar as tropas francesas, e na confusão causada por uma tentativa de reorganização, a moral francesa decaiu e eles bateram em retirada. Os aliados conseguiram uma vitória decisiva em cima dos franceses, que estavam sendo comandados por Joseph Bonaparte, que quase foi capturado pelo exército aliado. Dos 82 mil soldados aliados presentes na batalha, 158 ficaram entre os mortos e feridos, enquanto dos 60 mil franceses, 8000 ficaram entre mortos, feridos e capturados. Essa vitória acabou liderando o colapso do governo napoleônico na Espanha, e abrindo caminho para uma vitória total na Guerra Peninsular.

O Marechal Soult fugindo de Porto sob fogo do Exército Anglo-Português, durante a Segunda Batalha do Porto

               Os caçadores continuaram a ser usados através do século XIX, mesmo com o fim das guerras napoleônicas e a libertação de seu país  no fim da Guerra Peninsular. Apesar de sua longa história e atividade no exército português, os caçadores foram extintos em 1911 depois da reorganização do exército, em que eles foram reclassificados como infantaria comum, depois do advento de armamento mais moderno.

               Apesar disso, o título “Caçadores” não tinha sido extinto, já que ele serviu de nome para várias unidades em atividade no exército português do século XX, mais notavelmente os caçadores especiais e os caçadores paraquedistas, que faziam parte das forças especiais e do batalhão de paraquedistas, respectivamente. Mas, em 1975, o título “Caçadores” foi descontinuado no exército português, tendo todos aqueles que antes possuíam esse título, reclassificados novamente como infantaria comum.

“Caçadores Especiais” na década de 1960, atuando na Guerra de Independência de Angola

               Mesmo com a família real tendo fugido para o Brasil, os portugueses lutaram bravamente para libertar a sua pátria-mãe sob o comando dos ingleses, e eles acabaram conseguindo não somente libertar Portugal, mas também foram fundamentais também na libertação da Espanha. Sendo a elite da infantaria ligeira de Portugal, os caçadores se provaram mais do que notáveis oponentes para os franceses, e acabaram sendo fundamentais na derrota de Napoleão, provando o seu valor como soldados não só para os franceses, mas também para a Europa inteira.

FONTES:
CHARTRAND, R. Portuguese army of the Napoleonic Wars (2) : 1806-1815. Reino Unido: Osprey Publishing, 2000. 48 p.
MARTELO, D. Os caçadores: os galos de combate do exército de Wellington. Portugal: Tribuna da História, 2007. 128 p.
COELHO, S. V. The portuguese caçadores, 1808 – 1814. Disponível em < https://www.academia.edu/3733216/The_Portuguese_Caçadores_1808_1814&gt; Acessado em 25 de Fevereiro de 2014.

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