Guerreiro Maori

Postado em Atualizado em

               Devido a sua cultura guerreira, os maoris se destacaram na história como uns dos mais selvagens guerreiros do mundo. Lutando ferozmente contra os assentadores britânicos em mais de uma ocasião, os maoris foram um oponente formidável e conseguiram se adaptar muito bem ao armamento britânico. Aterradores e poderosos, os guerreiros maoris se colocaram entre os povos mais resistentes à dominação britânica.

               A origem dos maoris é a mesma que a do povo das ilhas polinésias, uma das teorias dizendo que eles descendem de um povo do sul da China, que não possuía relação com a etnia Han e que migraram para Taiwan. E, de Taiwan, para o resto das ilhas do pacífico exceto o Japão, Austrália e Papua-Nova Guiné.

               Apesar de semelhantes, as culturas das tribos polinésias acabaram por se desenvolver de maneira diferente umas das outras. Os maoris, particularmente, desenvolveram uma cultura mais guerreira para defender seus estoques de comida de outras tribos que visavam saquear os seus estoques, portanto o seu desenvolvimento cultural enfatizou a guerra e a proteção.

Vilarejo Maori no século XIX

               Os guerreiros maoris não usavam nenhum tipo de proteção para a batalha, indo para a guerra com uma tanga de palha com um cinto de couro ou até mesmo nus em certas ocasiões. Suas armas eram a taiaha: um bastão pontudo que media em torno de 1,5m de altura; a mere: um porrete pequeno e achatado feito de madeira, osso ou jade, sendo essa arma usada principalmente para atacar as têmporas, costelas e queixo dos adversários; e, por fim, a wahaika: um curto porrete de madeira cujo propósito era ser utilizada em lutas rápidas para desarmar o oponente. Quando os ingleses chegaram, os maoris também passaram a usar os mosquetes que conseguiam pegar dos ingleses em combate.

               Mas talvez a prática guerreira mais peculiar dos maoris seja o haka. Por mais que o haka, em si, não seja exclusivo à guerra, ele também era usado nesse propósito, e cada tipo possuía um objetivo em particular. Existem vários tipos de hakas de guerra: dois deles realizados sem armas, o whakatu waewae e o ngati, cujo último possuía o propósito de estimular psicologicamente os guerreiros aliados e os hakas realizados com armas, tutu ngaharu e peruperu, o último sendo tradicionalmente feito antes de batalhas para avisar o inimigo o destino que os espera e também para evocar Tumatuenga, o deus da guerra. O haka peruperu envolvia expressões faciais agressivas, caretas e até mesmo a agitação das armas dos maoris. Muitas vezes os hakas intimidavam e até mesmo afugentavam a tribo rival, evitando assim uma batalha mais sangrenta.

Grupo maori realizando um haka, gravura do século XIX

               Além das guerras entre si mesmos por motivos de insultos ou territoriais, os maoris lutaram principalmente contra os britânicos devido a sua colonização da Nova Zelândia, dando início às guerras maoris. Dois episódios dessa extensa guerra foram a Guerra do Mastro de Bandeira e a guerra de Te Kooti.

               A guerra do mastro de bandeira, também conhecida como Rebelião de Hone Heke, começou em 1845, cinco anos depois da assinatura do tratado de Waitangi, que validava a permanência dos ingleses na Nova Zelândia. Porém, o tratado estava confuso para os maoris que entenderam que os ingleses deixariam os maoris serem os soberanos da ilha. Após se sentirem ludibriados pelos ingleses, que anexaram a ilha ao seu império, o chefe Hone Heke cortou o mastro de bandeira inglês, que foi erguido e derrubado de novo mais três vezes, assim iniciando a guerra.

               Terminando em 1846, O resultado da guerra é complexo no mínimo, já que ambos os ingleses e maoris saíram com vantagem na guerra. Os ingleses acabaram com a rebelião e Hone Heke e seu aliado Te Ruki Kawiti ganharam muito prestígio e mantiveram a integridade de sua tribo, tornando assim a guerra inconclusiva e tecnicamente um empate entre as duas forças. Dos 500 maoris que viram ação, 60 a 94 homens foram mortos e 80 a 140 feridos. No lado britânico, dos 400 homens, fora os navios empregados em bombardeios, 82 foram mortos e 164 foram feridos. O mastro de bandeira, símbolo da soberania inglesa na ilha, não chegou a ser reerguido uma quinta vez.

               A guerra de Te Kooti, uma série de conflitos que ocorreu de 1868 até 1872 e foi a última guerra das guerras neozelandesas. Essa guerra teve início com o líder espiritual Te Kooti, um prisioneiro acusado de entregar armas de fogo e munição para rebeldes maoris, que após anos na prisão disse ter recebido visões, iniciando uma nova religião com base numa visão do Velho Testamento de retorno à terra prometida e ganhando o apoio de várias tribos maoris e também liderando escaramuças contra assentamentos e forças inglesas e maoris simpatizantes dos britânicos.

               A rebelião se encerrou quando Te Kooti foi sobrepujado, mas fugiu das forças inglesas e conseguiu refúgio nas terras do rei maori. Eventualmente, Te Kooti foi exilado pela quebra da lei de ausência de álcool e capturado pelas forças inglesas, que o perdoaram pelo seu crime, libertando-o.

O chefe Hone Heke derrubando o mastro da bandeira britânica

               Atualmente, os maoris estão tudo menos subjugados. Apesar das tradições dos guerreiros maoris somente se manifestarem de maneira cerimonial, a Nova Zelândia possui uma forte influência dos maoris e eles ainda se mantém como um povo orgulhoso dentro de sua ilha.

               Até hoje existe um movimento de eleição para um rei maori, apesar desse movimento não ser considerado de poder legal e também não possui poder constitucional na Nova Zelândia. Os maoris, entretanto, se comprometem com esse movimento, e ele serve ainda mais para legitimar a força de sua cultura na sua própria ilha natal.

               O haka, a dança tradicional dos maoris, também possui uma forte impressão não só na tradição maori como um todo, mas também se tornou um símbolo cultural da Nova Zelândia. O haka “Ka Mate”, composto pelo líder de guerra da tribo Ngati Toa, Te Rauparaha em cerca de 1820, é usado pelo time de Rugby neozelandês desde 1906, e seu uso amplo foi um fator crucial para a popularização da cultura maori para além mar.

Maoris apresentando um haka

               Símbolos de poder e força nacional, os guerreiros maoris lutaram bravamente não só contra si mesmos em guerras tribais, mas também contra os britânicos conseguindo objetivos importantes e mantendo a sua cultura e povo vivos até os dias de hoje. Sendo lembrados pela população neozelandesa como os mais atrozes guerreiros que já caminharam na sua terra.

FONTES:
KNIGHT, I. Queen Victoria’s enemies (4) Asia, Australasia and the Americas. Reino Unido: Osprey Publishing, 1990. 48 p.
MADER, W. Maori weapons. Disponível em < http://maorisource.com/MaoriWeapons.html > Acessado em 1 de Agosto de 2014.
KNIGHT, I. The New Zealand wars 1820-72. Reino Unido: Osprey Publishing, 2013. 48 p.
BELICH, J. The New Zealand wars and the victorian interpretation of racial conflict. Nova Zelândia: Penguin Books, 1985. 400 p.

Um comentário em “Guerreiro Maori

    Andries Viljoen disse:
    12 de junho de 2020 às 20:40

    Os maoris foram os primeiros habitantes da Nova Zelândia ou Aotearoa, que significa “Terra da grande nuvem branca”.

    Chegando a Aotearoa

    Segundo os maoris, o primeiro explorador a chegar à Nova Zelândia foi Kupe. Usando as estrelas e as correntes do oceano como seus guias de navegação, ele se aventurou pelo Pacífico em sua waka hourua (canoa de viagem) partindo de sua terra natal na Polinésia chamada de Hawaiki. Acredita-se que Kupe tenha desembarcado no Hokianga Harbour, em Northland, há aproximadamente 1.000 anos.

    Onde fica Hawaiki?

    Você não encontrará Hawaiki em um mapa, mas acredita-se que os maoris tenham vindo de uma ilha ou de um grupo de ilhas na Polinésia, no Oceano Pacífico Sul. Há semelhanças distintas entre o idioma e a cultura maoris, e aqueles da Polinésia, incluindo as Ilhas Cook, o Havaí e o Taiti.

    Waka tribal

    Outras waka hourua percorreram o mesmo caminho de Kupe pelas próximas centenas de anos, desembarcando em várias partes da Nova Zelândia. Acredita-se que a migração polinésia tenha sido planejada e deliberada, com várias waka hourua fazendo a viagem de volta para Hawaiki. Hoje, as iwi (tribos) remontam todas as suas origens e sua whakapapa (genealogia) a algumas waka hourua. As sete waka que chegaram a Aotearoa foram chamadas de Tainui, Te Arawa, Matatua, Kurahaupo, Tokomaru, Aotea e Takitimu.

    Caçadores, colhedores e cultivadores

    Os maoris entendiam de caça e pesca. Eles costuravam redes de pesca de harakeke (linho) e esculpiam anzóis de osso e pedra. Caçavam pássaros nativos, incluindo moa, o maior pássaro do mundo, com uma variedade de armadilhas e ciladas indígenas. Os maoris cultivavam a terra e plantavam vegetais vindos da Polinésia, incluindo kumara (batata doce). Eles também comiam vegetais nativos, raízes e frutas vermelhas. Cestas de linho trançado eram usadas para carregar comida, que era geralmente armazenada em um pataka (depósito construído sobre estacas).

    Conflitos tribais

    Na era pré-europeia, eram comuns os conflitos tribais maoris. Os guerreiros maoris eram fortes e destemidos, capazes de habilmente produzir uma variedade de armas tradicionais, incluindo a taiaha, parecida com a flecha, e o mere, parecido com um taco. Hoje, essas armas podem ser vistas em cerimônias maoris, como o wero (desafio).

    Para se proteger de ataques de outros iwi, os maoris construíam uma pa (vila fortificada). Construída em localizações estratégicas, as pa eram edificadas com uma série de barreiras e trincheiras que protegiam seus habitantes de invasores. Hoje, muitas pa históricas podem ser encontradas em todo o país.

    Moriori

    Os maoris viviam em North e South Island, já os morioris, outra tribo polinésia, viviam nas Chatham Islands, a aproximadamente 900 quilômetros a leste de Christchurch. Acredita-se que os morioris tenham migrado para as Chatham Islands vindos de South Island da Nova Zelândia. No final do século 18, havia cerca de 2.000 moriori vivendo nas Chatham Islands. No entanto, doenças e ataques de maoris fizeram com o que o número dessa tribo pacífica se deteriorasse. Acredita-se que os últimos moriori de sangue tenham morrido em 1933.

    OBS: Antigamente, as comunidades de povos tribais se pintavam com tintas especiais, desenhando símbolos e traços em seu corpo – esse ritual servia não só para se identificar dentro de uma mesmo tribo, como também para mostrar do que eram capazes e, assim, intimidar o inimigo.

    Curtir

Deixe um comentário